quinta-feira, maio 8

Mudar de Vida

"Lembraste-me longe, esqueceste-me perto"

Eis um exemplo de um dos mais singulares casamentos: os diálogos de António Reis, que nos fazem cair na mais chã das realidades, temperada pelo lirismo subtil da palavra e da imagem, o "som feio" que Carlos Paredes sempre quis tirar da sua guitarra e a câmara de Paulo Rocha, que nos guia entre os pescadores do Furadouro, sempre entre a aparência de documentário e o melodrama de Adelino e Albertina.
Filme de extremos: entre os rostos esculpidos que lembram La terra trema, a profundidade de campo que os filmes "neo-realistas" de Rossellini popularizaram e o tom etnográfico que um certo cinema português sempre soube cultivar. Mas com um quid que o diferencia - é incrível como vemos um Portugal que não parece oco e forjado à custa da encenação - e torna quase único, mas não algo esotérico, apesar da influência japonesa, ou não encontremos planos que lembram Mizoguchi. Talvez, precisamente, a conjugação do trabalho de três personalidades tão díspares e uma simbiose quase perfeita de tanta e tão diferenciada influência.