Dá que pensar...
"(...) O argumentista, portanto, é o homem que fica sempre na sombra, que sua seu melhor sangue para o sucesso de outros; e que, embora o êxito do filme dependa dois terços dele, nunca verá o seu nome nos cartazes publicitários, onde são, pelo contrário, indicados os do realizador, dos actores e do produtor. Ele pode, é verdade, como acontece frequentemente, alcançar também nome neste seu mister subalterno, e ser pago muito bem; mas nunca pode dizer: «Este filme fi-lo eu» Isto pode dizê-lo somente o realizador, que, com efeito, é o único a assinar o filme. (...)"
in Alberto Moravia, O desprezo (tradução de Maria Tereza de Barros Brito), Editora Ulisseia, p. 49
4 Comments:
Também é importante ressalvar o inverso da medalha, ou a fracção bendita da sombra: se o filme possuir um mísero argumento, o público generalista culpa o realizador.
Meus caros, têm toda a razão. Este excerto do Moravia (cujo romance está na base do genial "Le mépris" de Jean-Luc Godard), apenas serviu para chamar a atenção para o facto de, o mais das vezes, centrarmos a nossa atenção no realizador, esquecendo todos os outros que contribuiram para a feitura da obra.
Como se diz no "la nuit américaine": todos estão empenhados no filme, esquecendo-se dos problemas pessoais. O Cinema reina.
:-)
Gore Vidal, quando se refere a um filme de que tenha escrito o argumento ('Ben Hur' ou 'Suddenly, Last Summer', por exemplo), costuma dizer 'o MEU filme X'.
Esta é uma velha questão que foi travada com balas de canhão (quase) por Pauline Kael e Andrew Sarris nos anos 60 e 70. A primeira era anti, o segundo era pró. Qualquer um dos dois deu boas justificações.
De facto, os actores e o realizador têm demasiada projecção comparativamente com o argumentista. Mas creio que essa área é mais uma espécie de ponto de passagem para, quem for mesmo bom, conseguir chegar a realizador. Se não consegue vingar e mostrar o seu nome no cinema, um argumentista pode sempre tentar a literatura, e há muitos casos de sucesso.
Claro que também há a particularidade de que, para se chegar a realizador, são necessários muitos mais “connections”…
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