domingo, novembro 30

O Excremento


"Then comes the long intestinal progress. The body, the heart of the matter, is full of excrement. Yet that's not where horror resides; that aversion - the repulsion for sgit - was instilled in us from earliest childhood, so the long progress is familiar and repetititve, like our daily progress. I believed, already tired of what seemed simplistic, somewhat childish provocation. So I thought, keeping a safe distance. But, of course, that's exactly what's at stake: the roots of good and evil in the virginsoil we all begin with, that soil made fertile, yes, fertile, by excrement"


Catherine Breillat, cineasta
Perverso? Sim. Horrível? Com certeza. Perturbador? Não haja dúvidas.
Salò é tudo isso, mas, também, uma obra-prima, capaz de metaforizar na perfeição a pós-modernidade, aquela sociedade onde tudo tem um valor venal. Não só o conhecimento como bradava Lyotard, mas, literalmente, tudo. O corpo, inclusivé. Daí que Salò, essa metáfora sádica, tenha de ser vista antes de cair o chorrilho de críticas. Afinal, Pasolini, o cineasta não-cineasta consegue aqui alcançar a perfeição da sua estética: total depuração, enquadramentos que fazem lembrar pinturas renascentistas. Tudo é uma quadro grotesco onde a câmara - e, consequentemente, o espectador - é colocada a uma distância segura, neutra. O objectivo confesso, esse, é perturbar. Fazendo-o, consegue o objectivo. Descreve o Mundo tal como ele é e lembra que o poder, desregrado, gera anarquia.

domingo, novembro 23

Fantasmas

O preto e branco, sim. Mas, acima de tudo, a capacidade de recorrendo às técnicas mais simples: a mudança de sequências a ecoar no mudo, produzir uma obra belíssima. Recorrendo às preciosidades do mud, sempre se dira que, da mesma forma em que vemos a imagem fechar-se sobre si, caindo o preto no écran, também este é um filme onde Garrel volta a centrar-se sobre si e os seus fantasmas, re-analisando paixões passadas.
Mais importante, é um filme belíssimo, lembrando o amour fou de Breton e, de certa forma, o cinema poético que o próprio Garrel fazia na década de 70. Afinal, existem ali passagens que ecoam Athanor. Filme de silêncios, de vozes interiores que nos transportam do consciente para o inconsciente, do real para o surreal. Um limbo, uma fronteira, precisamente a fronteira anunciada pelo título e que dá o mote para o quem vem: La frontière de l'aube, a incpacidade de distinguir real de sonho. A capacidade de levar a poesia a modo de vida, mesmo que seja um amor doentio e trágico.

sábado, novembro 22

sábado, novembro 15

Outono. Inverno. Primavera. Verão.
Este blog cairá de novo na modorra/parcimónia escrita, dado que vai (re)deleitar-se com a visão rohmeriana das quatro estações.

domingo, novembro 2

Dia de Todos-os-Santos


Lembrar o grito enraivecido de James Mason God's wrong, Deus falhou, perdeu-se, abandonou-nos. Encontrámos o conforto na provocação buñueliana: Sou ateu, graças a Deus. Não contentes, revisitámos Viridiana e os sentimentos reprimidos, o rebanho a entrar para uma igreja em El angél exterminador para um qualquer fantasma nos deixar presos de nós próprios, confrontando-nos com a produndeza abismal da nossa alma. No fim, sobreveio a crença cega na palavra, o apaziguamento que só a tranquilidade e a idade nos dão. Ordet. E tudo pareceu fazer sentido, enquanto contemplávamos o horizonte, sentados no cais da esperança, abrigados pelo cheiro intenso das laranjas que um vendedor clamava não conseguir vender.